sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Asè Pantanal uma casa de fé e história

Estive visitando o Asé Pantanal, uma das casas mais tradicionais do candomblé de Duque de Caxias. Fomos recebidos pela Mãe Maria e demais membros da casa. No local eles criaram o Memorial Cristóvão dos Anjos, que conta a história da casa desde seu início na Bahia. Localizado no bairro do Pantanal a casa se prepara para, em breve estar recebendo visitantes, hoje eles recebem estudantes e pesquisadores interessados em conhecer um pouco mais de sua história.

Abaixo reproduzo texto extraído do Facebook da instituição.

EFON
UMA CASA, UMA NAÇÃO
Falar de uma nação de Candomblé no Brasil e sua origem, assim como a origem de qualquer casa antiga é sempre muito difícil, pois nos primórdios dessas casas não haviam registros escritos, tudo era transmitido oralmente e com isso fica muito difícil fazer um estudo exato de como tudo começou.
De uma forma simples e resumida tentaremos contar a história da casa que é o berço dos Efon no Brasil, o "Asé Yangba Oloroke ti Efon" ou simplesmente como é chamado o Terreiro do Oloroke situado à Rua Antonio Costa (antiga travessa de Oloke) nº 12, no bairro do Engenho Velho de Brotas - Salvador - Bahia, para que quando alguém ouvir falar de nosso Asé, saibam quem somos e de onde viemos.
Em primeiro lugar vamos à origem na África, mais exatamente em Ekiti-Efon (não confundir com Ile Ifon, a terra de Osalufon) de onde vem um termo muito usado entre os Efon no Brasil "Lu Lokiti Efon" e onde reina absoluta aquela que é a rainha da nação no Brasil, Efon, ou seja, Osun, pois é bom esclarecer que Osun, nossa matriarca, é nascida em Ekiti-Efon, onde ela era considerada a mãe de Yemonja e do Awujale de Ijebu-Ere, no estado de Ekiti (Onadele Epega). Para concluir podemos traduzir o nome da divindade Efon dos tempos Lailai como sendo Osun, nome de seu rio e onde guardava seus tesouros, companheira inseparável de Oloroke que é seu pai, ficando assim esclarecido o porque da casa chamar-se terreiro do Oloroke e Osun ser a dona do Asé, sendo ele louvado juntamente com Osun nos nossos principais ritos.

Pois bem, foi desta localidade, que veio para o Brasil na condição de escravos por volta de 1850 um Tio Africano conhecido como Baba Irufa, filho de Osun e iniciado para Ifa, portanto um Babalawo que no Brasil passou a chamar-se José Firmino dos Santos ou tio Firmo, juntamente com uma princesa do Ekiti-Efon de nome Adebolui iniciada em sua terra natal para o orixá Olooke, que no Brasil passou a chamar-se Maria Bernarda da Paixão, a Maria Violão, alcunha que ganhou por ter um corpo muito bonito, e é dito ainda por uma fonte do Axé Pantanal do falecido Cristóvão Lopes dos Anjos, que veio ainda junto com eles uma filha de Tio Firmo que atendia pelo nome de Asika, a existência desta Asika não é confirmada em Salvador por algumas pessoas antigas ligadas ao Asé. Existe uma outra possibilidade de que Baba Irufa e Asika sejam a mesma pessoa, sendo Baba Irufa seu titulo de Ifa e Baba Asika seu nome ou ainda um outro titulo.


Mesmo antes de serem libertos já promoviam encontros e participavam de encontros, pois faziam parte da Irmandade da Igreja da Barroquinha (pesquisa de campo em Salvador) onde se reuniam os fundadores da Casa Branca do Engenho Velho e segundo pessoas antigas, Maria Bernarda da Paixão era prima carnal da primeira Yalorisa da Casa Branca.
Por volta de 1860 Tio Firmo e Maria Bernarda fundam o Asé Oloroke no endereço acima citado no engenho velho de Brotas, onde encontra-se até hoje, plantando ali o Asé de Osun e com isto além de fundar uma casa fundam também a Nação Efon.
Mais tarde tio Firmo passa a viver maritalmente com Maria Bernarda da Paixão que era sua governanta e passam a dividir as funções do Asé. Acredita-se que nesta época ambos já eram libertos.
Os Igbas ou assentamentos dos orixás foram trazidos da África e estão até a presente data preservados no Ile. La encontra-se a Osun de Tio Firmo e Oloke de Maria Bernarda entre outros.

Apesar da libertação dos escravos, a perseguição a cultos Afros foi intensa e conta-se que Tio Firmo foi preso por várias vezes.
A árvore do Iroko, um dos símbolos da casa, foi plantada após a libertação dos escravos, mas bem no final do século XIX, e a muda do Iroko veio da Casa de Osumare. Outra história interessante do Iroko do terreiro do Oloroke, é que onde ele foi plantado era caminho das pessoas, pois ainda não haviam muros nem cercas e foi debaixo do Iroko da casa, que a finada Mãe Runho da nação Jeje deu a luz a Nicinha Lokosi e esta informação pode ser confirmada por Nenê de Osagiyan neto carnal de Runho e por outros antigos ligados ao Bogun.
Por volta de 1905 morre tio Firmo que ainda em vida já tinha passado a casa para Maria Violão, sendo esta a segunda pessoa a sentar-se como mãe da casa.

Maria Violão iniciou várias pessoas entre os quais podemos citar Mãe Milu que foi a Ya kekere do Asé, Matilde de Jagun (Baba Oluwa) sua sucessora e terceira mãe da casa, Cristóvão Lopes dos Anjos de Ogun Já, Ogan e mais tarde Asogun sendo também o Olowo do Ile e a quarta pessoa a governar o Asé, Celina de Yemonja (esposa de Cristóvão), Paulo de Sango, filho carnal de Mãe Milu, Crispina de Ogun, a quinta pessoa a governar o Asé, e muitos outros.
No dia 4 de outubro de 1936 morre Maria Bernarda da Paixão aos 94 anos de idade.
Após muitas divergências assume a casa Matilde de Jagun, Baba Oluwa, que fez muitos iyawo entre os quais Noélia de Osun e Emiliana também de Osun. Mãe Matilde vem a falecer no dia 30 de outubro de 1970 aos 67 anos de idade.
Após o falecimento de Matilde quem assume a casa é Cristóvão de Ogun que faleceu no dia 23 de setembro de 1985 aos 83 anos de idade. Após a morte de Cristóvão, graças ao esforço de Maria de Sango (sua herdeira no Asé Pantanal), sentou-se na cadeira de Yalorisa do Terreiro do Oloroke, Mãe Crispina de Ogun e Mãe Maria de Sango foi quem dirigiu os ritos de posse da nova Yalorisa. Após a morte de Mãe Crispina, a cadeira está a espera de uma nova Yalorisa até a data de hoje.
Bem, não podemos nos esquecer de duas casas tradicionais de Efon a quem nós, os Omo Efon, devemos muito. Uma das casas já completou 50 anos de fundação, é o 'Asé Pantanal' como é conhecido e dirigido pela Yalorisa Maria de Sango. A Outra casa que também é um reduto de Efon é o "Ile Ifa Monjé Gibanawe" do conhecido Babalorisa Alvinho de Omolu.
Aqui esta um pouco de nossa história, e aproveitamos o ensejo para desejar a todos os filhos, netos, bisnetos e todas as gerações do Asé assim como aos amigos e simpatizantes, sejam felizes, convivam com paz e harmonia e muita fraternidade na graça de Osun e Oloroke. Asé a todos.










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